IV Jornadas de Espiritualidade Eucarística

“Eucaristia, a Ti o louvor”.

A quarta edição das Jornadas de Espiritualidade Eucarística, promovidas pelas Servas Franciscanas Reparadoras de Jesus Sacramentado ocorreu no dia 10 de junho de 2025. Imersas no Jubileu da Igreja, e na celebração dos 800 anos do Cântico das Criaturas de S. Francisco de Assis, as Jornadas deste ano foram subordinadas ao tema “Eucaristia, a Ti o louvor”. O salão da Escola Secundária Emídio Garcia acolheu, desde as 9.30 horas, os cerca de 150 participantes que iniciaram a manhã com a oração da Hora Intermédia.

A Superiora Geral da Congregação, Irmã Emília Seixas deu o mote com a sua palavra de abertura em que salientou que a “Eucaristia não é “alguma coisa”, é ALGUÉM. Este ALGUÉM convida-nos a ser, a estar, a permanecer, em modo de continuidade: sendo, estando, permanecendo, em comunhão.” Evocou a data de falecimento da Irmã Maria de São João Evangelista celebrada neste dia e que, desde há quatro anos consecutivos “tem vindo a proporcionar este tempo e este espaço de formação eucarística, para que cada um de nós seja sinal de esperança, aquela esperança que, no dizer do Papa Francisco, não engana. Somos sinais de esperança (…), quando somos eucaristia na vida.”

O Padre José Luís Amaro Pombal, do Presbitério de Bragança-Miranda, actualmente a trabalhar na Secretaria de Estado da Santa Sé, desenvolveu o tema “Eucaristia, como louvor”. Partindo de uma citação do Catecismo da Igreja Católica, referiu que pela “Eucaristia (…) Cristo associa a sua Igreja e todos os seus membros ao seu sacrifício de louvor e de acção de graças” e também que “os louvores que se cantam nos céus, nós cantamo-los na celebração da Eucaristia”.

“Celebrar Eucaristia pressupõe aproximar-nos de Deus. A Eucaristia é a escola do louvor da experiência da beleza, faz brotar em mim uma atitude contemplativa”, disse. Lembrou que “o mundo tanto precisa de que partilhamos o tesouro da Eucaristia como louvor, porque será antidoto para tantas doenças do nosso tempo”. O Padre José Luís ajudou ainda a refletir no modo como podemos integrar os limites da criação e o pecado neste louvor eucarístico, dado que “o Senhor ressuscitado ilumina a enfermidade do mundo e o nosso louvor na Eucaristia não é só movido pela esperança”, pois aprendemos de Jesus a transformar o mal à luz do mistério Pascal. O padre José Luís e exortou os participantes a que “o louvor se torne um estilo de vida”, a aprender de Jesus a antecipar a entrega da própria vida. “Dando voluntariamente a vida, como Jesus, ela não nos será tirada”, disse.

A manhã concluiu-se com um momento de adoração eucarística presidida por Dom António Montes Moreira. Foi um tempo de louvor com e através da Criação.

A tarde, já com a presença de D. Nuno Almeida, Bispo de Bragança-Miranda, iniciou com a sua saudação a que se seguiu a conferência preferida pela Doutora Eugénia Abrantes, Diretora do Instituto de Estudos Avançados em Catolicismo e Globalização (IEAC-GO), sob o tema “Um amor levado à loucura. As dimensões do amor místico em Alzira Sobrinho”.

A 15 de agosto de 2024 foi aberta a fase diocesana da Causa de beatificação e canonização da Irmã Maria de São João Evangelista cujo nome de baptismo era Alzira Sobrinho, uma mística do século XX, ainda bastante desconhecida mas com uma mensagem e vivência urgentes para o nosso tempo. A Doutora Eugénia confessou que, não conhecendo ainda muito bem Alzira, se congratulava pela oportunidade de, através dos escritos a que teve acesso, se lhe abrir como que uma pequena janela sobre o manancial ainda por descobrir. Reconhece nela “um amor místico carregado de emoção, afectividade, simbologia e mesmo erotismo; absolutamente fascinante e de uma beleza difícil, ou mesmo impossível, de traduzir”.

A partir da sua vasta experiência como investigadora no âmbito da mística, associada à bíblia, à espiritualidade e à psicologia, a palestrante colocou Alzira na linha dos grandes místicos que “têm o condão de surpreender a nossa humanidade e a nossa espiritualidade”. Há na mística cristã “esse não conseguir calar, porque a experiência do amor assim o exige”. E citou Frei Agostinho da Cruz: “Que caiba em língua o que não cabe em peito”, para salientar o “patamar” onde se situa Alzira Sobrinho. A Doutora Eugénia desenvolveu a sua reflexão por “três naturezas amatórias” – o Amante (Deus), o amado (a pessoa) e o próprio amor – e expôs que “a mística será sempre uma operação anti-solidão, porque carregada de surpresa e espanto” e ainda que “a mística é a mais romântica das aventuras”, pois “o amor não tolera metades e é impaciente nas ausências”. Daí a fase de Alzira sobre Jesus: “Viver sem Ele é morrer!”.

A Doutora Eugénia revisitou os textos dos Profetas do Antigo Testamento, o Livro do Cântico dos cânticos e outros autores cristãos para descrever como o amor de Alzira Sobrinho se enquadra dentro da genuína tradição dos místicos cristãos. “Nela a direcção da oração é dizer a Jesus «o quanto te amo», o tempo privilegiado de estar com o Amante”. Disse ainda que “não devemos temer a dimensão humana de nos expressarmos junto do nosso Deus. Quando Alzira refere «Ó Jesus nunca pensei que eras tão bom e tão carinhoso e que amavas assim tanto, à loucura!», ela ensina-nos que amar Jesus é permanecer no leito nupcial.” E, inspirando-se no Cântico dos cânticos, revelou: “Alzira ensina-nos que o nosso caminho de felicidade é esse permanentemente ‘atrás de Ti’.” Em jeito de conclusão a Doutora Eugénia enquadrou Alzira na mística da alma portuguesa “encarnação de uma cultura própria, a cultura de um país onde o sol se põe. E aquele que todos os dias vê o poente há-de perguntar-se, inevitavelmente, pelo nascente.”

Este dia de formação culminou com a celebração da Eucaristia, presidida por D. Nuno Almeida, Bispo de Bragança Miranda. Na homilia lembrou que “as palavras de Jesus «isto é o meu corpo, isto é o meu sangue» são as palavras mais belas e mais dramáticas da história. Jesus doado em alimento, até ao fim e até à eternidade.” Referiu que “o nosso tempo é de emergência Eucarística. Urge dar testemunho e suscitar o encanto pela presença de Jesus na Eucaristia.” O Prelado reconheceu que “precisamos de formação litúrgica, mas sobretudo de fazer a experiência da adoração ao Sacramento da Eucaristia” e, por isso, deixou dois pedidos às Irmãs Servas Franciscanas Reparadoras de Jesus Sacramentado: “o primeiro de tornar a adoração acessível ao povo de Deus e o segundo o de promover o Laus Perene Diocesano em todas as paróquias da Diocese, para fazer transbordar o carisma de Alzira Sobrinho.

Ir. Maria José Oliveira, sfrjs