A MELHOR MATÉRIA PARA A EUCARISTIA
Novena do Corpo de Deus 2020
Senhor Jesus, Tu dás-me participar no teu banquete de amor e permites que eu te ofereça os dons que tu já me deste.
Assim, neste tempo em que não podemos ainda todos ter uma participação plena na Eucaristia, por causa da pandemia de Covid-19, que nos limita, vou fazer esta novena do Corpo e Sangue de Jesus, escolhendo para ti, no meu próprio ser, as melhores ofertas para que vivas em mim e para que eu me torne Eucaristia.
1º Dia: O melhor trigo
Proposta para leitura: Jo 6, 32-40
Reflexão/ Oração:
Vou escolher para ti o melhor trigo. Onde o encontrarei? Irei à terra propícia do coração, que escuta a tua Palavra e a faz germinar e frutificar serenamente, fugindo à dureza de um caminho onde todos os passos deixam opiniões confusas, renunciando aos espinhos da mundanidade que sufocam a tua voz, resguardando os teus preciosos sinais da passarada atrevida de uma sociedade que debica e não se alimenta da tua lei. (cfr. Mt 13, 19-23).
O trigo bom é o que germina na terra temperada pelas intempéries das estações, que se recusa dialogar com as tentações e não improvisa pães desde as pedras (cfr. Mt 4, 1-11).
O trigo bom é o que que não teme apodrecer para germinar (cfr. Jo 12, 24), que aproveita as agruras das estações para imprimir madurez à alma, que suporta o ardor da estiagem do aparentemente monótono passar do dia a dia, com aquela fidelidade que o amor não deixa quebrar.
As espigas que melhor gradam são as que se expõem à luminosidade do teu olhar Criador. Hei de procurar aquelas espigas que formam searas fraternas, na assembleia da tua Igreja, convocada como teu povo, que cresce com o joio ao lado (cfr. Mt 13, 30), mas com ele não se confunde, que não escolhe arrancar o mau, mas o convida a fazer parte da festa.
O melhor grão será aquele que não desdenha suportar o mais fraco, e reparar as suas insuficiências, e deixar-se reparar pela bondade dos outros, é o grão que prescinde desse individualismo atrofiante, para se fazer farinha moída, liberta do farelo duro da intransigência e da autossuficiência para se aquietar na imensa obra de se fazer pão, de se fazer Eucaristia.
Prece: Senhor Jesus, que nos convidais a ser como o grão de trigo que morre para dar vida,
– fomentai em nós o dinamismo do vosso mandamento novo, de nos amarmos uns aos outros como Vós nos amastes, de forma a darmos credibilidade ao anúncio da boa nova.
Cântico: O trigo que Deus semeou, no seio de Maria…
2º Dia: O melhor Vinho
Proposta para leitura: Jo 6, 32-40
Reflexão/ Oração:
Onde irei buscar o melhor vinho? À vinha amada pelo Vinhateiro (Sl 80), que se deixa trabalhar pelo engenho da tua misericórdia, aberta ao oxigénio da Tua Verdade e ao sol energético do teu amor, para produzir bagos cheios de festa, possuidores da doçura nova do Teu Espírito e da afluência da Palavra.
Estas uvas doces hão de ser espremidas no lagar da minha quotidianidade, sujeita a desgastes e embates, a pressas e urgências e também a espaços aromáticos de paragem para a fermentação, no suave calor da adoração, na profunda alegria de te contemplar. É neste lagar que o vinho ganha a força para te anunciar, burila a marca da credibilidade, incrementa a garantia da persuasão.
Porque esta matéria vai ser assumida por ti como teu sangue, deve possuir a oxigenação da verdade. Terá a cor intensa do meu próprio sangue quando está disposto a ferver em serviço, pelas veias do mundo, a levar a frescura da tua paz, o alento da tua proximidade. Este vinho deve ser testado com a ciência da enologia cristã, aquela que mede o teor da alegria, que testa o paladar a Evangelho, que calibra o entusiasmo da entrega.
Prece: Senhor Jesus, que derramastes o vosso sangue por nosso amor, até ao fim,
– mantende em nós uma disponibilidade constante para que possamos fazer tudo por amor a vós e aos irmãos, em atitude de serviço incondicional.
Cântico: Aceitai, Senhor a nossa alegria.
3ª Dia: A melhor gota de água
Proposta para leitura: Jo 4, 6-14
Reflexão/ Oração:
Quero providenciar aquela gota de água, que o sacerdote coloca no cálice, símbolo da minha humanidade, de toda a humanidade, assimilada, assumida pela tua divindade. Onde a irei buscar? Tu sabes bem, Senhor, do que somos materialmente feitos. A elevada percentagem de água na composição da minha humanidade faz com que a água seja símbolo da vida biológica, que tanto estragamos com os nossos comportamentos errados, que desfiguram a nossa essência. A abundância de água dá cor ao nosso belo planeta azul que interpreta no cosmos um bailado de beleza. Por isso, aquela gotinha irei buscá-la à pureza das nascentes mais limpas, à generosidade dos rios que distribuem vida por onde passam, ao dinamismo dos mares e oceanos, ventres de uma inumerável diversidade e abundância da tua criação e às nuvens que roçam o céu e anunciam o teu sorriso.
Mas irei também buscá-la àquela pureza do coração que me pedes nas bemaventuranças (cfr. Mt 5, 8). Também quero destilá-la desde o segredo das mãos atentas, que limpam os rostos dos crucificados. Hei de ainda procurá-la nas lágrimas apaixonadas dos místicos, e naquelas que a ti se elevam como pedidos de socorro.
Prece: Senhor Jesus, que sois a água viva que nos mata todas as sedes, dai-nos a beber da fonte da Eucaristia, e deixai-nos permanecer em Vós,
– para que possais tornar-vos em nós fonte de água viva que jorra para a vida eterna.
Cântico: Bebei se tendes sede das águas da verdade…
4ª Dia: O melhor cálice
Proposta para leitura: 2 Cor 4, 7-11
Reflexão/ Oração:
Senhor, tens por hábito colocar o teu tesouro em vasos de barro (2Cor 4, 7). Mas é com a sua fragilidade que contas para dar de beber ao mundo. O cálice que hei de providenciar para o teu preciosíssimo sangue será também de barro. Não tenho outra matéria disponível senão a minha própria fragilidade. Mas vou calafetar as minhas fugas, vou reforçar as paredes desta fragilidade tosca, capaz de, com um toque, se despedaçar. Limparei todos os resíduos de sujidade, impróprios para receber o teu máximo dom, removerei o egoísmo e toda a vanglória, o desânimo e a falta de confiança, limparei amuos e intolerância. Ofereço-te o meu coração contrito (cfr Sl 51,19), como um cálice que te recebe. Quero que resplandeça de disponibilidade para te acolher e para partilhar o teu dom junto daqueles que amas, e a quem desejas levar o socorro. Para isso quero formar-me na escola da Eucaristia, que é pão partido e vinho derramado. Hei de permanecer junto da cruz, com Maria, a tua Mãe, (cfr. Jo 19, 25) para não desperdiçar uma só gota do teu amor; hei de seguir o percurso dessa lança que te abre o peito (cfr. Jo 19, 34) para tudo recolher. Para que todos bebam dele. Para que os frutos do teu sacrifício cheguem a todos.
Prece: Senhor Jesus, que na última Ceia fizestes sacramentalmente oferta do Sangue que derramastes por nós no Calvário,
– mantende em nós uma disponibilidade constante para que possamos fazer tudo por amor a Vós e aos irmãos, em atitude de serviço incondicional.
Cântico: Elevarei o cálice da salvação, invocando o nome…
5º Dia: Os melhores panos de linho
Proposta para leitura: Lc 2, 6-7
Reflexão/ Oração:
Quero, Senhor, proporcionar-te os mais finos panos onde o teu corpo nasce, como no ventre puríssimo de Maria. Com ela descubro que um coração que guarda a tua palavra e a pondera (cfr. Lc 2, 51); é aquele em que te deleitas habitar. Quero tecer, paciente, aquele espaço interior onde o teu descanso possa dar-me descanso, onde sintas a limpeza que dá conforto, onde a visão se deslumbre na homogeneidade da pureza que não admite manchas. Nestes fios de tempo que se entrelaçam em confusão, hei de ordenar os meus afetos, as prioridades das minhas linhas de projetos e de sonhos, para urdir um louvor que te glorifique (Sl 145)! Buscarei aquela planta de folha azul miúda, que copia a beleza do azul do céu e da imensidão do mar, para nela encontrar as fibras, rijas e maleáveis, de que se podem fazer fios. Como da planta do linho se faz o fio, cuja rebeldia se deixa trabalhar e se torna a alvura capaz de te acolher até te tornares alimento, assim eu me proponho deixar-me trabalhar pela conversão. Deixarei bordar esta peça da minha vida com as circunstâncias que me visitam, as quais transformarei em louvor. Juntamente com os irmãos bordarei um fino desenho de louvor, porque a tua misericórdia é eterna (cfr. Lc 1, 50).
Prece:
Senhor Jesus Cristo que nos desafiais a contemplar o abandono dos lírios do campo e a confiança das aves do céu,
– incrementai em nós a confiança de a Vós nos entregarmos e a docilidade para deixar que nos santifiqueis.
Cântico: A minha alma canta jubilosa e alegra-se em Deus…
6º Dia: O melhor altar
Proposta para leitura: Mt 5, 23-26
Reflexão/ Oração:
O melhor altar és tu próprio, Senhor Jesus, porque és o Altar, o Sacerdote e a Vítima. Mas é nesta escola que quero aprender a tornar-me também altar onde possas oferecer-te e oferecer-me contigo como hóstia viva, santa e agradável a Deus (Rom 12, 1). Vou providenciar todo o amplo espaço da minha vida, como mesa onde os teus convidados possam ser comensais. Isto desafia-me a acolher a todos numa renúncia a escolhas, a abrir os meus domínios aos irmãos, a devotar a atenção aos que, aparentemente, deixaram de ser dignos de a ter, aquelas pessoas que passam fome de pão, de afetos e de sonhos, as pessoas que estão secas por dentro, que deixaram esmorecer o viço e não produzem sonhos. Para todos serei mesa fraterna, que cria aquele ambiente da “sala de cima”.
Esta é a mesa da Aliança, a mesa em que eu aceito a tua sorte, para deixar-me repartir, naquele gesto comunitário que não admite o individualismo, que não prevê a aceção de pessoas.
Prece:
Senhor Jesus Cristo que todos os dias vos ofereceis, como oblação pura, por nós ao Pai do Céu,
– ajudai-nos, com a vossa Graça, a oferecer nas nossas vidas sacrifícios agradáveis a Deus, através da comunhão convosco e das boas obras que praticamos.
Cântico: No teu altar, Senhor, coloco a minha vida em oração.
7º Dia: O melhor sacrário
Proposta para leitura: Jo 10, 9-11
Reflexão/ Oração:
O melhor sacrário é o coração que te guarda amorosamente sem resquícios daquela atitude que procura controlar, ou até manipular, mas num puro acolhimento, disponível e humilde, para que aí vivas e ele viva de ti. E, se ainda viver dependente das peias biológicas, há de exalar o sumo do teu pulsar, há de almejar amar como tu amas, há de deixar-se formar pelo teu modo de amar e há de deixar que nele sejas Tu mesmo a amar (cfr. Gal 2, 20).
Hei de colocar-lhe um cetim de contemplação, acolchoado de abandono, onde os segredos se fazem traves, onde os silêncios cúmplices e os colóquios mais íntimos desenham ceias.
Hei de fazer do meu coração a tenda sagrada do encontro, certo que será uma tenda frágil, sujeita à chuva e ao vento do deserto das tentações que a põem à prova e amedrontam, mas onde a glória da nuvem do teu mistério (cfr. Ex 33, 9) a faz morada gloriosa das núpcias. Quero que o meu coração seja, mais que sacrário, um trono onde reines, onde exerças a tua soberania, como desejava a Ir. S. João: “Queria, em cada coração que palpitasse sobre a terra, formar um trono a Jesus-Hóstia.”
Prece:
Senhor Jesus Cristo que prometestes ficar connosco “todos os dias até ao fim dos tempos”,
– permanecei nos nossos corações, para que a nossa evangelização procure “em cada coração que palpita sobre a terra, formar um trono à vossa presença Eucarística”.
Cântico: Ó Deus Sacramentado, Vós sois o Rei de amor.
8º Dia: A melhor chave
Proposta para leitura: Ap 3, 20-23
Reflexão/ Oração:
Que chave poderá glorificar a porta do teu repouso?! Será aquela que nunca consente encerrar-te nas masmorras do egoísmo. Em modo de possessão. A tua chave terá de estar em modo de revelação! A chave significa o valor que te dou, como meu maior tesouro, com a consciência de que não te posso perder, ou melhor que vou colaborar para que nunca me percas. A chave é esta confiança tua que aceito, para que habites debaixo do meu teto, e te dares a guardar à minha indignidade, depois de uma palavra tua me salvar. Quero ser uma chave que te guarde das turbulências da banalidade e da indiferença, uma chave que ajude a descodificar a tua presença neste mundo, cheio de enigmas e de burlas. A chave que preciso de providenciar para ti será aquela que te descerra, aquela que te abre aos demais. A melhor chave guarda-me em Ti. A melhor chave é a resposta pronta a cada batimento teu na porta do meu coração (Ap 3, 20), quando vens convidar-me à ceia do amor levado ao extremo (Jo 13, 1). A chave é um exercício de humildade, uma passagem do poder dispor de ti a dispor-me para ti e para os teus desígnios, resolutamente e sem glosa.
Prece:
Senhor Jesus Cristo que todos os dias, estais à porta da nossa vida e nos chamais à comunhão convosco,
– dai-nos uma tal sede de Vós que escolhamos estar sempre na vossa presença e sejamos presença vossa junto daqueles que nos rodeiam, através dos nossos gestos de caridade.
Cântico: Eu estou à porta e chamo, diz o Senhor…
9ª Dia: A melhor lâmpada
Proposta para leitura: Jo 1, 5-12
Reflexão/ Oração:
Que lâmpada te poderá iluminar, ó Sol de justiça e fonte de toda a luz?! O meu humilde tremeluzir sairá destas fagulhas de vida a ti oferecida, para te aceitar como presença. A luz será esse fogo do meu viver que se te oferece como dom.
Quero ser também o azeite da tua lâmpada, como a Ir. S. João desejava ser, aquele azeite que se consome em glorificação tua, por amor, como um perfume que se evola e se perde para ser fragrância e desperdício, aquele azeite que o amor não deixa acabar, que se mantém nas esperas da noite, mesmo quando tu demoras (cfr. Mt 25, 1-13), com aquela vigilância apaixonada, com aquela constância que não quebra perante a longa espera.
Quero ser esse azeite que é símbolo da dedicação e do cuidado do outro, do frágil. Aquela lâmpada que se coloca na cabeceira dos doentes o bálsamo que suaviza as suas chagas.
Quero ser esta lâmpada de presença, fazendo tudo o que faço na vida por amor, velando o meu coração aceso na chama pascal do teu círio, como um pregão de ressurreição, como um anúncio vivo da tua vida ressuscitada, que na Eucaristia se reparte por cada ser humano.
Prece:
Senhor Jesus Cristo que nos mandastes ser “sal da terra e luz do mundo”,
– fazei com que as nossas boas obras brilhem diante dos nossos irmãos, de modo que todos vos possam glorificar e acolher como Sol que não tem ocaso.
Cântico: O Senhor é minha luz e salvação. A quem hei-de temer?