52º Congresso Eucarístico Internacional

Cristo nos deu a Salvação/ Na forma de pão e vinho,/ Na Tua paz, todas as Nações/ Possam partilhar este Sacramento Divino. Foi imersos num vibrante grito de fé do povo Húngaro que cantava este hino a plenos pulmões no pavilhão A da UNGEXPO, em Budapeste, que vivemos, de 6 a 12 de Setembro, o 52º Congresso Eucarístico Internacional.
Na verdade, este hino foi adaptado de uma outra edição do Congresso Eucarístico Internacional também celebrado em Budapeste em 1938, às portas da segunda Guerra Mundial e tem acompanhado o povo Húngaro em momentos intensos da sua vida de fé.
Este evento, que deveria ter-se realizado no ano passado foi adiado, por causa da pandemia de Covid-19.
Os sete elementos que compunham a delegação da Diocese de Bragança-Miranda representavam todos os estados de vida na Igreja, Bispo, Presbítero, Diácono, Religiosas e Leigos. O nosso foi o grupo mais numeroso do conjunto de Portugal, que somava um total de 26 elementos representando 10 dioceses. Presidiu a esta comitiva o senhor D. José Cordeiro, nosso Bispo, e Presidente da Comissão Episcopal de Liturgia, Delegado da CEP para este evento internacional de tanto impacto na igreja.
As reflexões do Congresso, entre catequeses e testemunhos, articularam-se em torno de algumas virtudes que a Eucaristia potencia em nós e que todos os cristãos precisam de desenvolver em si mesmos e à sua volta para transformarem o mundo: a bondade, a paz, a paciência, a esperança, a fé e o amor.
Ao longo dos dias fomo-nos abrindo à “pedagogia da Eucaristia”, como afirmou o Cardeal Gérald Lacroix, do Quebec (Canadá), para nos sentirmos enviados pois “a paz oferecida pela eucaristia é tudo menos um bem estar. É um compromisso de evangelização. Uma paz para ser partilhada.”
Já com o cardeal Charles Maung Bo, arcebispo de Yangon e presidente da Conferência dos Bispos Católicos de Myanmar, aprendemos os dez mandamentos da paciência, a partir da experiência do nosso Deus, “que se define a si mesmo como um Deus de paciência e compaixão”, na verdade, segundo o Cardeal “Hoje também temos muitos problemas que são como a sarça ardente, mas o Senhor nos diz: ´sei que estás a sofrer. Estou sempre contigo`. Sim, a paciência na nossa vida pessoal, nas nossas relações e no mundo nos trará paz a todos”.
Lembrei muito a Ir. S. João, que viveu na sua vida a paixão por Jesus na Eucaristia, numa fé muito para além do espiritual, uma fé que se centrava no Sacramento da Eucaristia como uma Presença de Jesus, de tal modo forte, evidente, amorosa, que a arrebatava de amor e que ela queria fazer conhecer e amar. Também o cardeal John Onaiyekan, arcebispo emérito de Abuja, Nigéria, recordou-nos que, “na Eucaristia, temos a presença real de Deus entre nós. É claro, Deus está sempre presente connosco em todo o tempo e lugar. Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem, é a presença física histórica de Deus no nosso mundo. Essa é a base da presença real de Deus em Cristo na sagrada Eucaristia”.
Durante estes dias tivemos oportunidade de conhecer alguns dos pontos mais emblemáticos da cidade de Budapeste, conviver com a imponência e beleza dos monumentos, espelhados no rio Danúbio e apreciar a hospitalidade e natural simpatia do povo Húngaro.
Situada no coração da Europa, a Hungria sofreu de perto e de dentro todos os acontecimentos que deixaram cicatrizes no velho continente. Acompanhámos a história de fé dos cristãos desta nação que foi sendo provada por diversas vicissitudes (a última das quais o regime comunista) das quais sempre saiu fortalecida. Esta história, regada por sangue de mártires e de testemunhas da fé cristã, estava estampada na Cruz Missionária que acompanhou a preparação e a realização do Congresso onde, a par de uma relíquia do Santo Lenho, estavam incrustadas relíquias diversas de santos e beatos deste povo e dos povos vizinhos.
Recordámos ainda a forte ligação da Hungria a Fátima, bem visível no emblemático calvário Húngaro e nesta lembrança saudámos a memória do Padre Luís Kondor, tão ligado a Fátima e à causa de beatificação dos pastorinhos.
Momento alto para a comitiva portuguesa foi no dia 8, dia litúrgico da celebração da Natividade de Nossa Senhora, em que a Delegação Portuguesa celebrou a Eucaristia numa das paróquias de Budapeste, em Português. Além de nós estavam presentes os três Bispos Angolanos e alguns jovens brasileiros residentes em Budapeste que também participaram na animação da Eucaristia. D. José Cordeiro, que presidiu, lembrou Maria como “a aurora, a estrela que anuncia o sol e, n’Ela, o cristão é como que uma nova criação irradiada pela luz radiante da manhã de Páscoa.” Ligando esta festa ao contexto da Celebração do Congresso Eucarístico Internacional fez notar que “na diversidade das línguas e culturas é que se encontra a unidade da fé da Igreja una, santa, católica e apostólica. A língua comum manifesta-se no bem comum da pertença ao Evangelho.” E desafiou-nos a “que este 52º Congresso Eucarístico Internacional seja um autêntico sinal de fé, de esperança e de caridade para a unidade a paz na Europa e em todo o mundo, porque a Eucaristia é sacramento que forma o corpo eclesial e é «fonte e centro de toda a vida cristã» (Lumen Gentium 11).”
O tema deste Congresso “Todas as minhas fontes estão em Ti (Sl 87,7) levou-nos a reforçar a consciência da centralidade da Eucaristia na vida da Igreja. O Cardeal da República Checa, Dominik Duka, deu a este sacramento a ideia de uma dimensão cósmica. “O homem como um ser que pertence à terra, leva a centelha que aponta para o céu”, disse. E lembrou que a Eucaristia é a plenitude do Universo, é onde o criado encontra a sua maior elevação. A Eucaristia, referiu, “é um ato de amor cósmico, une o céu e a terra, eleva e penetra a criação que surgiu das mãos do Pai e a Ele regressa”. Este Cardeal incitou-nos a “desfossilizar” a Igreja, pois a Eucaristia faz da igreja um acontecimento dinâmico e vivo.
Este dinamismo esteve muito presente através de uma geração jovem que nos acolheu, acompanhou e animou durante todo o Congresso.
A participação na Eucaristia do dia 11, em frente ao magnífico edifício do Parlamento, seguida de procissão eucarística até à Praça dos Heróis onde, no dia seguinte, se realizou a Eucaristia de encerramento, a Statio Orbis com o Papa Francisco, foram momentos inesquecíveis na nossa jornada Eucarística. O Papa passou rentinho a nós e na homilia, a partir do Evangelho, convidou-nos a uma “renovação que se realiza através de três passagens que fizeram os discípulos e que podemos realizar também nós: o anúncio de Jesus, o discernimento com Jesus e o caminho atrás de Jesus”. E concluiu: “Deixemos que o encontro com Jesus na Eucaristia nos transforme, como transformou os grandes e corajosos Santos Estêvão e Santa Isabel. À semelhança deles, não nos contentemos com pouco; não nos resignemos com uma fé que vive de ritos e repetições, abramo-nos à novidade escandalosa de Deus crucificado e ressuscitado, Pão partido para dar vida ao mundo”.
Entre as cerca de 100 mil pessoas cada um de nós se sentia uma gotinha, mas desejosos de ser sementeira e fermento para a Evangelização. Os que participámos neste Congresso trouxemos um enorme entusiasmo não apenas para celebrar a Eucaristia de um modo mais consciente, ativo e ardoroso, mas também para assumir o rosto Eucarístico da Igreja, para deixar que a Eucaristia possa pulsar na nossa maneira de ser.
Ir. Maria José Oliveira, sfrjs